(post em actualização)
Fui a Luanda pela primeira vez em Abril deste ano. Tinham-me falado tão mal da cidade que depois de chegar achei que não era assim tão mau. E não foi só porque as reuniões de trabalho correram bem. Fiquei num bom hotel no centro da cidade, tive motorista às ordens e fui a bons restaurantes. Dessa vez, passei lá uma semana e não me faltou nada. Da segunda vez, em Agosto/Setembro, fiquei duas semanas e a única coisa que mudou foi sentir-me mais à vontade para andar sozinha na rua a pé.
Isto, apesar de não ter encontrado nos supermercados, portugueses e sul-africanos, produtos sem glúten específicos e de as pessoas não saberem o que é a Doença Celíaca Consegui fazer todas as refeições no hotel, nos restaurantes e na cantina de uma universidade sem dificuldades.
Esses foram os aspectos positivos da visita. Como cheguei num dia feriado tive oportunidade de conhecer a cidade de carro, incluindo alguns bairros mais problemáticos e grandes mercados ao ar livre. Nesse passeio, tive a perfeita consciência dos contrastes. Há bairros com grandes casarões guardados por seguranças armados e passados uns kms barracas que deslizam dos montes com a chuva.
A maioria das pessoas que se vêem na rua - a vender tudo e mais alguma coisa num mercado paralelo, onde os mais pobres se abastecem de comida, bebidas, coisas para a casa, roupa, entre outros - são pobres, e muitos provavelmente vivem nos musseques em casas onde a água e electricidade falham dias seguidos, habitações sem depósitos de água e geradores. Mas todas têm parabólica.
Por todo o lado há grandes prédios em construção. Principalmente hotéis, edifícios de escritórios e condomínios. Incluindo uma cidade nova chamada Kilamba Kiaxi, a cerca de 30 km de Luanda, para 120 mil habitantes (este número varia consoante as fontes), com escolas, hospital, transportes públicos e outras infra-estruturas que não existem em quantidade suficiente para todos os habitantes da capital.
Luanda está sobrelotada e isso é notório, por exemplo, na densidade habitacional e no trânsito caótico. Penso que uma das metas desta nova cidade é precisamente libertar Luanda de uma parte da população em excesso. O valor das casas começa em USD 125.000, o que significa que apenas uma pequena parte da população terá poder de compra para as adquirir. Apesar disso, acaba por ser um investimento no país que irá beneficiar algumas pessoas.
As placas "Há sopa e almoço" vêem-se um pouco por toda a parte nos chamados 'bairros'
Sobre comer sem glúten em Luanda na minha opinião foi fácil. Encontrei carne, peixe, marisco, legumes, leguminosas, fruta e alguns cereais (arroz e milho) frescos, de qualidade e bem cozinhados, contudo a um preço elevado. No mínimo, as refeições fora de casa ficam a USD 25 por pessoa, em restaurantes como o Só Peso (restaurante de comida a peso). A título de comparação no Hotel Skyna, o buffett com sopa, vários pratos de carne, peixe e pasta, e sobremesas variadas custava USD 75.
A maioria das refeições que fiz foi na Ilha do Cabo que fica ao largo da capital, um local privilegiado, onde existem muitos restaurantes que podemos considerar como de qualidade superior tanto pela localização, como pela decoração e serviço. Tive sempre o cuidado de perguntar os ingredientes dos pratos cujo nome me suscitava dúvidas. Evitei fritos (batata congelada pré-frita) e panados, entradas e pratos com molho e salada, devido à possibilidade de ficar doente com intoxicação alimentar, como aconteceu com dois colegas. A propósito, não consumi água da torneira, que no hotel tinha um tom amarelo acastanhado, nem para lavar os dentes.
Visitei apenas dois supermercados um português, a Casa dos Frescos, com produtos de grande consumo em Portugal a preços muito elevados, como iogurtes Actimel com preço superior a USD 20 por embalagem, e um sul-africano localizado no Belas Shopping, o ShopRite. A maioria dos produtos, nestes supermercados, é importada, tal como vai acontecer com o Hiper Continente que abrirá brevemente em Luanda. Em nenhum deles encontrei produtos específicos sem glúten.
Belas Shopping
As pessoas com quem tive reuniões desconheciam a Doença Celíaca, mas garantiram-me que esse tipo de produtos não é comercializado em Luanda. Assim, aconselho as pessoas que vão passar algum tempo em Luanda, ou mesmo trabalhar na cidade, a levar na bagagem produtos sem glúten como cereais de pequeno-almoço, pão embalado e farinhas. É prudente sempre que regressarem ao seu país adquirir um novo stock de produtos ou pedir a quem os visitar que leve produtos. Em alternativa, poderão deslocar-se à Namíbia (supermercados Spar) ou à Àfrica do Sul (http://gfsouthafrica.blogspot.com/) que são os países mais próximos onde há produtos sem glúten.
Refeição sem glúten a bordo de um voo Lufthansa Lisboa/Luanda
Nos voos da Lufthansa Lisboa/Luanda, via Frankfurt, para além das refeições sem glúten, que pedi com antecedência, deram-me pão alemão sem glúten com arroz integral, milheto e milho da marca Pema, barras de cereais da Oskri e geleias de morango que guardei para os lanches. São produtos que poderá juntar ao seu stock para comer mais tarde. As porções servidas a bordo são mais do que suficientes e acabo por nunca conseguir comer tudo, o que nesta situação acaba por ser positivo porque os celíacos devem andar sempre com alguma coisa que possam comer na mala.
Cabo Ledo
Para quem tiver algum tempo para passear em Angola há alguns locais que merecem ser visitados. Aconselho um safari no
Parque Natural da Quiçama, a 70 km de Luanda, onde é possível ver de perto alguns animais de grande porte, como elefantes, no seu habitat natural. Quem gostar de fazer praia tem várias alternativas. A Ilha do Mussulo, muito conhecida e falada, fica pertinho da cidade e oferece bom areal e água quentinha. Um pouco mais longe, a cerca de 100 km de Luanda, ficam as praias de Sangano e Cabo Ledo.
Lagosta grelhada que almocei em Sangano à beira da praia
Fiz uma pequena lista de coisas que ainda gostaria de fazer em Luanda: jantar numa tasca, ir à discoteca (o ambiente do
Chillout
é a puxar para o pretensioso, mas a música é boa), e andar de
candongueiro. São boas oportunidades para conhecer a cidade, a cultura e
as pessoas. Talvez numa próxima visita se houver tempo, oportunidade e a
companhia o permitirem.
Candongueiros, os táxis do povo. São antigas carrinhas de nove lugares Toyota Hiace pintadas de branca e azul. Os destinos finais são apregoados a viva voz, por exemplo: 'São Paulo', 'Congolense' ou 'Aeroporto'.
Algumas sugestões de restaurantes em Luanda
Restaurantes em Luanda
Interior do Restaurante Embarcad'ouro. Na esplanada têm um papagaio.
Embarcad’ouro (Luanda Sul)
Belas Shopping, Talatona
Caribe
Multibocas (restaurante mais simples com pratos típicos)